O que foi dito

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mãos

Morde-me as mãos - Mão Morta



As minhas mãos molhadas
e pegajosas, quentes,
da tua saliva animal.

A tua língua já conhece
o sabor do sangue,
e as minhas veias
bombeiam.
Bombeiam.

As minhas mãos devoradas
e eu já não sei o que é
o meu sangue e a tua
saliva.

E o meu corpo bombeia
todo o ódio que sentes.
E os cortes que fazes
em ti mesma com
lâminas ferrugentas
só me cortam a mim.

Duas gotas de sangue
no chão.
Vermelho escuro
preto nos azulejos
brancos do chão.
Cheiro a ferrugem.

A tua língua na minha boca
e eu digo:
morde-me antes as mãos.
A tua pele cicatrizada de
encontro a minha e eu digo:
morde-me antes as mãos.
O teu sangue e o meu
espalhado pelos nossos corpos
e eu digo:
devora-me as mãos.

O chão manchado de negro,
vermelho escuro
preto nos azulejos coagulados.
Cheiro a ferrugem.

Os meus cotos cicatrizados
observam-te,
enquanto pela primeira vez
és tu a esfregar os azulejos.

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